Luciana Konradt

Oráculos e conchas

Por Luciana Konradt
Jornalista, advogada e escritora

A cada novo ano, antes e depois da virada, nos deparamos com inúmeras previsões, estampadas por todos os lados. Mesmo céticos ou extremamente racionais, nós nos lançamos, ávidos, como antigos frequentadores dos oráculos, a ler o que dizem os videntes, astros, números, búzios e as cartas. Alguns nos informam que ingressamos na era de Aquarius e a humanidade dará, enfim, seu salto quântico na direção de um mundo mais perfeito. Outros asseguram que a prevalência do número sete, resultado da soma dos algarismos do novo ano, trará prosperidade a partir do autoconhecimento. Por fim, o horóscopo chinês atesta que 2023 será regido pelo coelho e, como tal, um período cheio de esperança.

Seja por mera curiosidade ou outra razão subjacente, quase sem perceber, passamos a folhear colunas e mais colunas dedicadas a lançar luzes sobre o futuro próximo e distante. A tentar espiar, nas frestas do inexplicável, um pouco do destino e suas surpresas. Há um certo deslumbramento. Um encantamento infantil em procurar desvendar os mistérios que o universo nos reserva. O caminho a trilhar, os próximos passos e como vai girar, para cada um de nós, a roda da deusa Fortuna.

Essa tradição adivinhatória incorporou-se de tal modo aos nossos rituais do começo de ano que mesmo a mais pragmática das criaturas sucumbe ao impulso de acessar uma ou outra bola de cristal e deliciar-se com a avalanche de auspiciosas promessas. Para nossa sorte, porém, como escrevi, nessa mesma coluna, no verão de 2022, na crônica intitulada Pequenos tesouros, haverá sempre uma concha no meio do caminho a nos lembrar do presente e de suas infinitas e fugazes possibilidades. Da necessidade de abraçarmos o “agora” e suas oportunidades mágicas. Ou, como nos ensina Sêneca, “viver cada dia como se fosse uma vida inteira.” Porque, nas sábias palavras do poeta Vinicius de Moraes, “a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais”.​

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